quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Ambulante


Ambulante

Malas
Sempre prontas
Arrumadas em cima da cama
Muitos lugares
Idas e vindas
Umas físicas, outras sentimentais
Amigos são fundamentais
E o vazio constante
De quem carrega
A própria alma
Como um ambulante.

Lar?
Pedaço de terra firme com um nome na escritura?
Ou apenas um canto, um ninho um pouso?
O que é estrutura?
Embasamento de vergalhões e concreto
Ou um amor sólido e poucos amigos
Com os quais você pode contar
E convidar para o seu lar?
Vivendo viajando, aeroportos,
Rodoviárias, distâncias
Poucos amigos espalhados por bairros, municípios, cidades, países.
Sempre muita gente conhecida, mas poucos amigos.
Os anos nos mudam?
Vivendo de um canto ao outro,
Procurando o seu local.
O seu lugar.
Ainda que não tenha estrutura
Ainda que não tenha escritura
Ainda que seja um campo de refugiados no deserto,
Cercados de minas terrestres.

Um amor sólido, poucos amigos,
Algum pouco dinheiro ganho
Como fruto do próprio trabalho
Estudando, lecionando, escrevendo
E buscando todo tempo
A Humanidade
dentro de mim.

Mochilas
Malas urbanas customizadas pelo varejo
Malas urbanas onde escondemos nossa alma
Enquanto conseguirmos nos manter em silêncio
Ou sem ter como registrar o que pensamos
Exalamos nossas almas na nossa voz, 
nos nossos escritos, nas músicas que compomos.
Almas exaladas que confortam outras almas cansadas
Vozes espalhadas pelas distâncias
das milhagens percorridas na malha urbana
Poetas, pregadores, pensadores artistas
Que exalam suas almas
Que carregam em malas
Como um ambulante.


 Escrito em 2007. Livro Anellos.